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LAERTE-SE
Direção: Lygia Barbosa e Eliane Brum
Laerte-se é verbo. Ao mesmo tempo que impele ao movimento, como um
imperativo de vida, se volta para si, numa interrogação persistente. Mas
aquela que retorna não é o mesmo que foi. E isso a cada volta. Ao
acompanhar Laerte Coutinho em seu percurso de investigações sobre o que
é ser uma mulher, este documentário também se faz ponto de interrogação.
Ou apenas espaço de possíveis.
Neste filme, Laerte conjuga um corpo no feminino, esquadrinha conceitos
e preconceitos. Não busca identidade. O que conjura são desidentidades.
Laerte é filho e filha, é vó e vô. É também pai, de três filhos, órfão
de um. É ainda quem leva a filha ao altar como pai e como mulher. E
quem, mesmo sem útero, gesta. Envia suas criaturas para confrontar a
realidade na ficção dos quadrinhos como uma vanguarda de si. E, nas
ruas, ficciona-se como personagem real.
Laerte, pessoa de todos os corpos e de nenhum, embaralha qualquer
binarismo. Ao indagar sobre Laerte, este documentário escolhe vestir a
nudez, aquela que vai além da pele que se habita. (Via Lygia Barbosa)